quarta-feira, 17 de junho de 2009

Que venha a São Silvestre..


Era mais uma semana de bastante trabalho por aqui. Tudo corria dentro do normal e do previsto. Mas foi aí que o Claudio veio com o tal convite: "Vamos participar de uma corrida no domingo?". Vindo de um meio-maratonista quase profissional, claro que o que veio na minha cabeça na hora foi "Esse rapaz tá é doido..", mas procurando manter a pose retruquei demonstrando interesse, como se aquilo fosse natural e eu fosse quase um Vanderlei Cordeiro de Lima. Se tratava de uma corrida em uma montanha aqui perto do instituto, num total de 12 km. Inundado em uma vontade de boas aventuras, não é que eu aceitei?

Como já estava correndo em torno de umas 2 vezes por semana, lá no Porto Antigo, cerca de 8 km, tinha a convicção de que se fossem 12 km em um terreno plano conseguiria "de boa". O problema da corrida seriam as subidas. Você já se sente morto depois de 200 metros. É, não ia ser fácil não. Então, a minha tática foi descansar o resto da semana pra ficar 100% pro domingo. Nada de corridinha tradicional no Porto e jogando como goleiro no futebol de quinta-feira.

Domingo, sete da manhã. O despertador tocou e me levantei sem muita preguiça. Diria até animado. A corrida começava as 09:00, mas devíamos chegar mais cedo para fazer a inscrição. Então tratei de tomar um café da manhã reforçado, porém sem nada muito pesado pra não atrapalhar durante a corrida. Quando fui acordar o Michele, que também tinha dito que iria, foi quando veio a notícia da primeira baixa na equipe: não estava se sentindo bem e resolveu não ir. Ok, sem problemas. Ainda estavamos em 3. A outra pessoa do grupo IIT de corrida é a Nadia, uma mexicana que também trabalha no Departamento de Robótica Avançada, como eu. A Nadia também é metida a correr, e pra uma mulher faz isso muito bem. Já participou de várias meia-maratonas e corre 15 km duas vezes por semana. A minha esperança de não passar vergonha lá era com o Michele, que como teve o joelho operado há alguns meses, talvez corresse mais devargar um pouco. Mas mesmo com a sua ausência coloquei a cara a tapa e fui. Na cara e na.. esperança.

Domingo, oito e meia da manhã. A quantidade de carros e a muvuca indicava que estavamos chegando perto do lugar da largada. Quanto mais iamos avante, mais pessoas apareciam. E quanto mais pessoas apareciam, mais receoso eu ia ficando. Apesar de muitos velhinhos, todos pareciam muito profissionais. Usavam camisa e short próprios daqueles maratonistas que a gente vê na São Silvestre no fim do ano na telinha da Globo. E isso, somado com alguns personagens que passavam correndo como um doido, mas que na verdade só estavam se aquecendo, foi transformando uma esperança de fazer uma boa corrida na torcida para conseguir completá-la, mesmo que depois de todo o asilo. Depois da inscrição, comecei a me esquentar. Mexendo o tornozelo com a ponta do pé no chão e alguns pares de agachamentos foram o suficiente pra eu começar a suar. Resolvi parar de me aquecer e guardar energias pro que vinha depois.

Domingo, nove e quinze da manhã. Alguns instantes antes da largada, falo pros meus dois companheiros de corrida: "Oh, vão no ritmo de vocês, eu vou na boa, tranquiláaço.". E quando foi dada a largada, deixei um pouco da muvuca ir na frente mas tratei também de tentar acompanhar o pelotão da frente. A tática era dar o máximo no começo e segurar as pontas no final. Mas o que eu não esperava era que os primeiros 5 km seriam de subida. Xinguei todos os santos, tava pra pedir arrego. Foi quando uma gordinha me passou. "Aí não", eu pensei. Trouxe motivação lá de dentro e fui atrás da gordinha, que, surpreendentemente, mantinha um ritmo bacana. E quando não parecia que podia piorar, me aparece uma subida que tava mais pra ser escalada que pra ser corrida. Nesse momento, quando a gordinha começou a caminhar, eu a passei e pra manter a pose fiz toda aquela subida correndo, mesmo que beeeem devagarzinho. E, finalmente, depois daquele inferno, as subidas deram um tempo. Lá do topo a vista era simplesmente estupenda. Maravilhosa. Era Gênova vista de um ponto que, mesmo depois de algumas trilhas em montanhas, eu ainda nao tinha visto. Teve alí, logo depois do fim da subida mortal, uma tenda que dava copinhos de água. Ah, nessa hora me senti "o cara". Tinha deixado a gordinha pra trás e, depois de beber metade do copinho, joguei o restante na cabeça. Daria uma bela cena de filme pra motivação em SPA`s, balançando a cabeça com aquela juba molhada jogando água para todos os lados. Mas enfim, voltamos à corrida. Depois de tanta subida, descidas e trechos planos iam se revesando e aproveitei pra descansar, diminuindo um pouco o ritmo, mas sempre correndo. Aos poucos os quilômetros iam passando e a convicção de que conseguiria completar a prova foi se transformando em certeza. Sempre tranquilo, sem me deixar abater, fui "deixando" alguns me passarem, inclusive a tal gordinha de antes.

Domingo, dez e meia da manhã. Passo pela placa dos 12 km. O primeiro pensamento foi "mas não eram 12 km? Por que ainda não acabou? Ah, vai se fud**!". Mas continuando a correr, a muvuca que se ouvia entregava que a prova estava pra acabar. E como não poderia faltar, antes do fim o martírio de uma última subidinha. Mas como estava descansado depois de tanta descida, consegui fazê-la com uma velocidade de botar inveja em muitos maratonistas. O importante alí foi começar no gás e terminar no embalo. Ufa! Depois de 1h 14m 04s completei a prova. Depois de segurar a vontade de pular com os braços pra cima, dando socos no ar, como o Rocky Balboa, fui me reidratar. Estavam ali dando melancia, gatorade, e outras coisinhas. Aproveitei pra dar um pouco de prejuízo pra organização.

É, sem dúvida uma experiência única. Mas se você estava torcendo pro texto acabar por aqui, tsc tsc tsc, se deu mal. Deixei pro final a grande novidade: mesmo com um ritmo cadenciado, cheguei em segundo lugar na minha categoria, que era dos "abaixo de 30 anos". Fui chamado lá no "podium" e tudo. Ganhei 2 garrafas de champagne. Iu-rul! A Nadia também ganhou uma garrafa, ficou em terceira na categoria dela. O Claudio foi o melhor de nós, 8 minutos na minha frente, mas na sua categoria tinha muita gente e não ganhou uma garrafa, tadinho. O resto, são detalhes. Por exemplo, fui o 106° geral, o que significa que só tinham "velhos" correndo, e pior, que 104 acima de 30 chegaram na minha frente. Mas quem se importa? Ao menos sou um exemplo pra juventude genovese: a começar pelo slogan na camisa ("Sem tabaco. 100% fashion"). E por terminar, em dar de presente uma das garrafas pro Claudio.