segunda-feira, 7 de junho de 2010

Cerveja, saúde e alegria

Depois da novela “Páginas da Vida” acho que deve ta na moda ver a vida como um livro. A propósito, quem me conhece sabe que minha vida é um livro aberto. E sabe também que sou puro clichê. Acredito que Deus nos dá o enredo, mas que é cada um de nós que escreve sua própria estória. E quando paro pra pensar nos meus 20 e poucos anos como autor me deparo com um fato: eu não poderia ter melhor protagonista pra minha estória que minha família. Quanto mais viajo, conheço outros lugares e outras pessoas, mais me orgulho e agradeço por ter nascido entre pessoas tão especiais. Assim, de capítulo em capítulo, vou caligrafando e aprendendo a escrever de maneira sempre melhor minha própria vida. Cada capítulo com suas tramas, personagens, cenários e clichês. Tem mocinho, tem vilão. Tem princesa, sapo que vira príncipe encantado e tem castelo. Tem início, meio e fim.

Era pouco mais da metade de maio. Estava eu vivendo um capítulo difícil, daqueles que machucam, mas também ensinam. Estava cansado. Queria ir pra casa ver pai, mãe, irmão. Precisava sentir todo aquele amor incondicional que eles simplesmente exalam, sem pedir nem medir. O destino era a Amazônia. E a ocasião era muito favorável. Era o quinquagésimo aniversário da minha mãezinha querida. Além disso, estão construindo a nossa primeira casa. Motivações e saudade eram o que não faltava. Assim, depois de pegar trem, avião, ônibus e barco, cheguei em Juruti acompanhado do meu irmão. No dia da chegada, toda a euforia foi alimentada com picanha, mandioca e vinagrete. E, pra dar início às mudanças, uma geladíssima cerveja. Um dia eu aprenderia a tomar cerveja. Afinal, se o Tio Rodrigo conseguiu deixar a Coca-Cola de lado, eu também conseguiria deixar a caipiroska. Com certeza é o início de uma nova era, onde a Oktoberfest ganhará sua devida importância, e dessa vez lá em Munique. Confesso que estou começando a me acostumar com o sabor da danada, embora ainda prefira minha vodka com frutas. Assim, com o paladar cada vez mais refinado e o ar-condicionado ligado, pude, depois de quase sessenta horas de viagem, dormir de verdade.

Nos dias que passamos em Juruti fui colocando o fuso-horário e a saudade em dia. O dia era movimentado em virtude da obra da casa. Sempre tinha pepino pra resolver. A gente sempre estava por lá, dando palpite e sentindo uma satisfação danada com a casa ganhando forma. No tempo livre, comida. No almoço, carne assada. Na janta, peixe. Tirei a barriga da miséria. De todos os lados vinham sensações gostosas. Num dia fomos conhecer o projeto do papai, e em outro tomar banho num igarapé. No dia do niver da mamãe, a casa não estava pronta. Mas quem liga pra isso? Inauguramos do mesmo jeito. Fizemos ali a primeira de muitas e muitas festas. Celebramos ali a primeira de muitas e muitas conquistas que essa casa vai ver. E também abrimos ali primeira de poucas e poucas garrafas de Moët & Chandon, que, de tão boa, não queria nem quebrar. Foi tudo bem simples (exceto pelo champagne), mas muito gratificante. Passar esse dia ao lado da família foi um presente não só pra aniversariante, mas pra todos nós.

O próximo destino era Alter do Chão. Esse era o cenário perfeito pra eu dar início a um novo capítulo da minha vida. Pegamos a lancha e, depois de cinco horas, um pastel de carne e um guaraná, chegamos a Santarém. Alugamos um carro e fomos encontrar a Cibele lá em Alter. Ela tinha acabado de chegar da sua viagem a bordo de um barco pelo rio Tapajós. Era o tal do Abaré, o qual porta com si saúde e alegria pras comunidades ribeirinhas. Lindo projeto. Depois de botar o papo com a prima em dia, de um banho de piscina e de um belo jantar, fomos dormir pra no dia seguinte subir novamente a Serra do Piroca e conhecer a tal Floresta Encantada. Depois de um farto café da manhã, fomos pra praça esperar duas meninas do sul, companheiras da Cibele no Abaré, que fariam os passeios conosco. Eram elas a Luana e a Joyce. Fazem medicina. E adivinha onde? Florianópolis. Mesmo tendo morado na mesma cidade por quase 5 anos, fomos nos conhecer só no meio da Amazônia. Ê mundinho pequeno. Confesso que a primeira impressão delas poderia ter sido melhor caso não tivessem chegado de Havaianas pra fazer a trilha. Porém, como rapidamente perceberam o equívoco, colocaram um tênis e foram extremamente simpáticas ao longo de todo o dia, saíram com a moral lá em cima. Agradeço a Luana, que fez um “quem for voltar pra Alter em setembro do ano que vem bota o dedo aqui porque já vai fechar” e fez com que o grupo se unisse e prometesse se reencontrar. Agradeço à Joyce pela agradabilíssima companhia ao longo de todo o dia, noite, madrugada e manhã seguinte, por responder a curiosidades acerca do corpo humano e por ter virado a página e iniciado um novo capítulo da minha vida. Papai e mamãe não fizeram a trilha, já que papai estava com a perna machucada. Mas não se iluda, pois mesmo assim foi ele quem ganhou a corrida de barcos no fim do passeio da Floresta Encantada.

É, mas como diz o velho ditado “tudo que é bom dura pouco”. Estou eu de volta a Genova, longe de tudo que mais amo. Mas estou feliz, em paz. Quero viver, crescer, aprender. Estou com fome disso. É como querer fazer caligrafia pra melhorar a letra. Não é que desejo entrar pra Academia Brasileira de Letras ou ganhar um prêmio Nobel de literatura escrevendo a minha estória. Quero só viver meus clichês e sonhos. E se sonhar é o primeiro passo pra se realizar um sonho, ter uma família dessas é o primeiro passo pra chegar no felizes para sempre.