Hoje é domingo. Agora são 14:20. O dia aqui em Gênova ta ensolarado e quente. Acordei tarde. Lá pelas 11:30, depois de me virar e desvirar na cama dezenas de vezes, morrendo de preguiça. Dei uma bela espreguiçada, pedindo licença pros quatro travesseiros e usando toda a diagonal da cama de casal. Levantei e liguei o computador, como de praxe. Acordei com saudade. Saudade de casa, de Brasil, de pai e mãe. Esses dias baixei na internet uma coletânea chamada “O melhor do Brasil”. Tem Vinícius, Toquinho, Cazuza, Caetano e Marisa Monte, entre outros. Coloquei pra tocar e fui pegar as roupas do varal, que já estavam ali há quase uma semana. Definitivamente, algo que não gosto de fazer. Logo, aproveitei o entusiasmo matinal e, colocando no cabide ou dobrando, dei um jeito em tudo ali. Botei também mais roupa pra lavar.
Como já era tarde, resolvi pular o café da manhã. Pra começar a pensar no almoço, decidi abrir uma cerveja. Tinha tudo a ver com a música: “Não deixe o samba morrer”. Cantando sozinho e tentando dançar algo parecido com samba, fui ver que na dispensa não tinha muita coisa. Final do segundo mês de bolsa é dureza. Tinha uma lata de ervilha, spaghetti, um pote de extrato de tomate, um creme de leite e granola. No freezer, um peito de frango congelado, hambúrguer e mais duas recém colocadas long necks. Na geladeira, meia cebola e presunto cru. Bem, como tava com fome, peguei o presunto e abri a lata de ervilha pra fazer de tira-gosto. Lembrei do Tio Júnior, lá no Fartura. Eu era pequeno. Lembro-me da cena dele sentado naquela mesa ali da cozinha, aquela perto do fogão a lenha, com o toldo branco atrás dele. Enquanto eu me deliciava com o queijo-de-minas dentro de um pão-de-queijo ele comia ervilhas e tomava cerveja. Pra mim, algo totalmente estranho. Milho até vai, mas ervilha? Eco! Mas o mundo dá voltas e, hoje, era eu a saboreá-las.
Coloquei o frango pra cozinhar. A idéia era desfiá-lo. A primeira long neck acabou e abri a outra. Como ela não tava ainda muito gelada, coloquei um pouco num copo e voltei o resto pro freezer. E aquilo me lembrou muito o Mansões Coimbra. Os almoços de fim de semana ali me marcaram. É um dos momentos familiares mais gostosos que me lembro. Com os quatro na cozinha, a gente conversava. De fundo, tocava Rádio Executiva (92.7, senão me engano). Todos bebendo cerveja, menos eu. Meu pai e eu irmão com uma latinha e minha mãe com um copo de vidro, metade cheio. Ela no fogão, preparando alguma coisa. Eu, sentado perto da geladeira e bebendo Guaraná, cortava a cebola. Meu pai, temperando um queijo-de-minas com orégano e azeite, ouvia nossos causos. O Bi, sentado perto da porta pra sala, de frente pro fogão e com um garfo na mão, quando não comia o queijo, fazia batucada. O cheiro de cebola e alho fritando era uma delícia. Quando era dia de estrogonofe, não tinha como não ir lá na panela beliscar um pedacinho de carne. Depois, com as panelas tampadas e fogo baixo, era hora de por a mesa. Tarefa, historicamente, do caçula, aff.. Depois do almoço, meu pai sempre lembrava “cada um lava seu prato”. De barriga cheia eu ia pro meu quarto, mexer no computador e o Gabriel pro quarto dele tocar guitarra. Meus pais iam pro quarto deles. Minha mãe, abraçada com seus travesseiros, dormia rapidinho. Meu pai, com dois travesseiros na cabeça e barriga pra cima, dormia com o controle remoto na mão. De tarde o Gabriel ia pro ensaio da banda e eu, com minha bicicleta, ou ia pra casa do Murilo ou pra casa da Déa. Mas, antes de sair, ia sempre lá avisar meus pais “oh, to saindo, qualquer coisa to com o celular. Mais tarde to de volta” e dar um beijo neles, já sonolentos.
Bem, no fim das contas, terminei a segunda cerveja e meu almoço tava pronto. Era um estrogonofe com frango desfiado que, pro lugar do arroz, foi acompanhado por um spaghetti. Até que ficou gostoso. Depois, fui pendurar as roupas que tinham acabado de lavar, escovei os dentes e vim escrever esse texto. Sei que essa solidão e nostalgia que to sentindo hoje é também fruto das minhas escolhas. Eu que decidi deixar pra trás família, amigos e amores. Seja quando deixei Goiânia e fui pra Florianópolis ou agora, que estou na Itália, fui sempre atrás de realizações pessoais. Sabia que tinha muitas coisas pra conquistar e que não podia ficar ali, parado. Meu mundo era maior que aquilo. Queria viver sonhos que eu sabia que poderia viver só naquele momento. Ou era naquela hora, ou nunca mais. Porém, a vontade de deixar tudo pra trás e voltar pra casa vai sempre existir. São momentos simples assim, como um almoço em família, que me enchem de certeza de que meu lugar não é aqui, longe da minha família. Mas aprendi que tudo tem seu tempo. A terceira cerveja ta quase acabando. Uma “lezêra” tomando conta. É, é hora do cochilo depois do almoço de domingo, meus pais.
1. Cuidado! Relembrar fatos do passado com tanta precisão pode ser um indicativo de alzheimer!
ResponderExcluir2. tu tinha computador quando era pequeno? moravam no brasil mesmo, ou eram milionários?! oO
3.aproveita o dia lindo q tá aí hoje, e sai pra rua =)
4. fica bem, e logo tudo passa. "toda positividadee eu desejo a vc.." =P
Thiaguinho...
ResponderExcluirLindo, comovente, emocioanante... é a nossa hístória, nossa cumplicidade, nossas raízes...
as pequenas coisas de grandes significados... "coisinhas à-toa que deixa a vida feliz!"
Tenho orgulho da sua sensibilidade, do valor que você sente por sua família...da sua saudade... da sua coragem de buscar os sonhos e viver todos os seus lados... e crescer com eles e ser cada vez mais um ser humano melhor... é isso que vale pena na vida!
Te amo muito e seu lugar, sua casa, sua mãe... estarão sempre a sua espera, para as paragens e voldas que a vida dá!!!
Beijos...
Sua Mãe, orgulhosa e encantada!!!
Thiago, que lindo relato! Também passei vários períodos (e em breve outros) longe da minha família e sei bem como são essas vontades de voltar, ainda mais quando somos tão novos. Sorte a minha ter encontrado seus pais no meu caminho lá em Juruti e eles terem conseguido amenizar um pouco a falta dos meus! :)
ResponderExcluirAdorei o blog!
Um abraço,
Yza Sarmento.