quinta-feira, 5 de março de 2009

E o calção de banho?


Quem já não ouviu falar de Roma? Quem nunca viu uma foto do Coliseu ou de um quadro de Da Vinci? A beleza da Itália é incontestável. Tão clichê quanto “e viveram felizes para sempre”. É como falar do Brasil e não se lembrar do Rio de Janeiro ou do Pelé. Mas sabemos que, além disso, é impossível não se encantar com um pôr do sol nas margens do Rio Tapajós ou com as praias no sul da Ilha de Florianópolis. E o mesmo acontece com a província da Ligúria, da qual Gênova é a capital.
A província da Ligúria, equivalente a um estado no Brasil, é uma estreita faixa entre o mar e as montanhas. E essa combinação cria lugares simplesmente fantásticos. Graças à companhia do Michele, o qual é fã de esportes e aventuras, praticamente todos os fins de semana nós fazemos uma trilha e conhecemos um lugar novo. Cada lugar com uma peculiaridade e uma beleza particular. É aquela típica situação na qual tiramos dezenas de fotos do lugar e não cansamos de vê-las, mas quando às mostramos a alguém geralmente não dão muita bola e pedem pra passar mais rápido enquanto você quer explicar cada detalhe.
Dentre os lugares que eu já fui, um me chamou mais a atenção que os outros. É um lugar que se chama “Cinque Terre” (Cinco Terras). Esse nome refere-se a cinco vilarejos os quais são unidos por uma antiga trilha que foi, até pouco tempo atrás (uns quinze anos) o único modo de interligação entre os vilarejos. Hoje já se tem estradas e trem. Porém, essa trilha ainda é percorrida por muitas pessoas, principalmente turistas. O caminho completo dura cerca de cinco horas, indo do primeiro vilarejo até o último. Mas acreditem, o cansaço não é nada quando comparado com as magníficas vistas que a trilha lhe proporciona. E certamente levarei qualquer um que vier me visitar aqui para conhecer esse lugar.
Fomos de trem até o primeiro vilarejo. Cerca de uma hora e meia de Gênova. E barato, só €4,40. Saímos perto do meio dia e chegamos num bom horário para comer alguma coisa (como se para mim houvesse tempo ruim para comer). Comemos um sanduíche em uma lanchonete, com presunto cru e queijo Brie. Muito bom. Mas, por inocência da minha parte e esperteza da parte do Michele, eu não sabia que faríamos uma trilha. Ele tinha me dito para colocar calção de banho que iríamos para uma cidade com praia. Então coloquei o calção de banho. Coloquei também uma calça jeans básica e uma camiseta pólo. Na mochila, uma toalha, uma bermuda e as Havaianas (as legítimas). Adequado para um passeio, e não para uma trilha. Quando me falou que faríamos uma trilha me assustei, já que no dia anterior tínhamos corrido em uma montanha cerca de dez quilômetros. E o pior ainda estava por vir. Quando pedimos informação de onde começava a trilha a uma pessoa que passava, ela nos informou e disse, além disso, que os dois primeiros trechos duravam cerca de uma hora e meia cada um. Dei chilique. Bati o pé o chão. Falei que estava cansado. Disse que gostava de aventuras mas que também dava valor em sentar numa cadeira de praia, beber uma caipiroska e relaxar um pouco. De nada adiantou. Ele me disse “Relaxar não está com nada”. Depois de um respiro fundo e de olhá-lo com uma cara de “Ê italiano duma figa, você me mete em cada uma, viu?”, partimos para a trilha. E graças a Deus fizemos isso. As montanhas cobertas de vinhedos e pés de oliva, o mar batendo em penhascos gigantescos e os vilarejos antigos são, no mínimo, inesquecíveis. Depois, quando chegamos ao segundo vilarejo, pegamos um trem de volta pra Gênova. Aí sim, na volta, o cansaço veio e com ele um bom cochilo no trem vazio. E onde o calção de banho entra nessa história? Eu também não sei.

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